Páginas

quarta-feira, 6 de abril de 2011

PROJETO DA LINGUAGEM DA ADAPTAÇÃO, ACOLHIDA E DA DESPEDIDA - Turma D


Justificativa:
         Os primeiros dias na escola são cheios de emoções conflitantes para as crianças, pais e educadoras: expectativas de reencontros, alegrias, curiosidades, incertezas, temores. É um momento especial: o nascimento de um grupo que vai trabalhar e aprender junto durante o ano. Vínculos mais profundos podem levar certo tempo para se formar, porém, criar desde o primeiro instante um clima de aceitação e de naturalidade vai estimular o crescimento da confiança mútua e o desejo de participar.
Falamos em adaptação sempre que nos deparamos com uma situação nova, ou readaptação, quando entramos novamente em contato com algo já conhecido, do qual ficamos afastados por algum período. Estamos em constante adaptação. Este processo inicia com o nascimento e nos acompanha por toda a vida, ressurgindo a cada nova situação que vivenciamos.
         Buscando compreender o ingresso da criança à creche, alguns estudos têm mostrado que tanto as mães como as educadoras descrevem as primeiras semanas como altamente estressantes especialmente para as crianças menores. O ambiente desconhecido, as novas rotinas, a alimentação, as pessoas não familiares, as separações diárias e a ausência da mãe colocam-lhes uma significativa exigência social e emocional. Porém, a adaptação muitas vezes é difícil não só para a criança, mas também para a família e a educadora, pois implica em reorganizações e transformações para todos.
Este período de adaptação é muito importante e especial, sendo que para cada criança e família, este processo ocorre de um jeito diferente e imprevisível. A criança precisa enfrentar vários desafios, por isso, é muito importante que este período seja cuidadosamente planejado para promover a confiança e o conhecimento mútuos, favorecendo o estabelecimento de vínculos afetivos entre as crianças, os familiares e os professores. É importante, nesta fase, que todos possam compreender e respeitar o momento da criança de conhecer o novo ambiente e estabelecer novas relações.
As reações à separação são comuns, complexas e variáveis, mesmo que seja a primeira ou a décima separação. Geralmente, o medo que surge na criança é o medo de abandono, mas, à medida que este processo ocorre de forma planejada e gradual, possibilita à criança construir vínculos e sentimentos de confiança com o educador, com os colegas e outras pessoas presentes na escola. É esta relação afetiva com o outro que possibilita a segurança, tão necessária para conhecer e explorar este novo espaço.
Assim, torna-se necessário que o processo de adaptação se organize de forma gradual, com a presença dos pais e com a leitura, pelo professor, do tempo interno da criança. Separar-se por mais tempo da mãe ou do pai é o primeiro passo dado pela criança, assim que consegue construir um vínculo com seus professores, sentir-se segura e confiante. Mesmo assim, a necessidade de adaptar-se reaparecerá a cada nova situação vivenciada pela criança, seja na escola ou fora dela. No espaço escolar, podemos citar alguns como: a mudança de turma, troca de educador ou a chegada de um novo colega. A participação da mãe ou do pai nos primeiros momentos, sendo planejada e orientada, minimiza a ansiedade e facilita a adaptação da criança.
A participação da família deve ser estruturada para evitar ambigüidade e diminuir a ansiedade. Quando os pais conhecem os professores dos seus filhos e confiam no seu papel de educador, eles transmitem segurança para o mesmo. Eles se tornam parceiros com o qual a criança pode contar na busca do conhecimento de um mundo grande, novo e interessante, pois caminharão lado a lado, falando a mesma linguagem, com objetivos comuns.
Segundo Rossetti-Ferreira (p.51) “Um período de adaptação bem conduzido possibilita que pais e educadores, através da sua convivência, estabeleçam uma relação produtiva de confiança e respeito mútuo.” Muito do sucesso da criança na escola vem da família, portanto, cabe aos pais mostrar as crianças que estão junto delas.
O processo de adaptação tem vida e se move de acordo com o sentimento e as percepções das pessoas nele envolvidas. O que toca, o que encanta, o que prende a atenção da criança é a descoberta que fará o educador no contato com ela. Este contato é dinâmico, se dá através do olhar, do toque, do tom de voz, da brincadeira e da imaginação que aparece sempre vestida de faz de conta. Participar do processo de adaptação é estar implicado nele, é contagiar-se com a emoção que a interação com a criança proporciona.
Para perceber a ansiedade, a insegurança, o medo e outros tantos sentimentos que a criança vivencia e comunica pela linguagem verbal ou não-verbal, é necessário olhar, ouvir, ler para que se estabeleça um diálogo. Esse diálogo marca o início da troca, se organiza pelas verbalizações e pelas ações, sejam elas do educador ou da própria criança e carregam em si a intenção de cada um e a percepção de infância do adulto.
Pensando no processo de adaptação como único pela singularidade de cada criança, pela sua maneira de se expressar, de sentir, de assimilar e pensar o mundo acreditamos que, para cada adaptação será necessário um novo olhar, uma nova escuta, uma atenção diferenciada. Perceber a criança e respeitar sua condição de sujeito, considerando seu desenvolvimento e sua maneira de assimilar o mundo nos permitirá acolhê-la no decorrer deste processo.
Mas em meio a este processo tão complexo, quem adapta quem? Como todos vivenciam este processo, a adaptação ocorre pelo entrelaçamento dos sentimentos, das percepções e ações dos familiares, professoras e crianças. Dessa forma, a criança se adaptará a escola à medida que todos tenham consciência de sua participação e implicação neste processo, e que o sentir possa ser falado e vivido como natural neste momento de confronto com o desconhecido. Então nós (todos os sujeitos implicados) nos adaptamos a uma instituição escolar que, também envolvida, organiza e encaminha diferentes maneiras o desenrolar deste processo, entendendo a criança como um sujeito de direitos, que sofre, que expressa o que sente, que questiona, que tem liberdade, podendo ser reconhecida em todo o seu potencial.
 Para Rapoport (2005), “... a adaptação é um processo complexo e gradual, em que cada criança precisa de um período de tempo diferente para se adaptar.” Assim, é difícil sabermos quanto tempo vai durar este período delicado em que todos estão se conhecendo. Aos poucos, a criança vai se acostumando com o novo ambiente, os novos horários e as diferentes relações de amizade e convivência.        
 As situações de aprendizagem planejadas para os primeiros dias são muito importantes para a apresentação da escola ou da turma. O professor pode incluir na rotina passeios pela escola para que o grupo tenha a oportunidade de conhecer o espaço físico, visitas a outras salas (previamente combinadas), bem como situações em conjunto no espaço externo.
Nesta fase também é primordial proporcionar situações de aprendizagens que favoreçam a socialização, permitindo a criança uma adequada adaptação ao grupo que passa a conviver diariamente, aceitando certas normas de convivência e reconhecendo seu papel dentro do grupo, conhecendo e aceitando as diferenças, já que é essa diferenciação que enriquece a vivência coletiva. A criança deve aprender a atenuar sua diferença individual para poder integrar-se à coletividade. Por outro lado, deve potencializar sua própria diferenciação para proporcionar sua contribuição peculiar e exclusiva ao andamento do grupo.
Uma rotina bem estruturada desde os primeiros dias é fundamental para que a criança se sinta segura. A organização do tempo em que ela vai ficar na escola permite que diminua sua ansiedade em relação ao momento da separação. Aos poucos a criança vai se adaptando a sequência de situações e vai percebendo que há um momento de chegada à escola e um momento de saída, sendo que o último representa a chegada da família. Nesse sentido perguntas como “A minha mãe vem logo?” “vou ficar aqui?”, encontram uma resposta concreta: “a sua mãe vem depois de tal situação!”. O papel fundamental do professor em relação às crianças é agir com prudência, dando uma atenção especial a ela, oferecendo situações interessantes que motivem sua atenção. Este se torna o adulto mais importante na vida da criança depois dos familiares que ela tenta imitar e agradar.
          Devemos levar em conta que o período de adaptação também é uma oportunidade para o professor conhecer melhor as crianças, percebendo seus interesses e necessidades, entendendo as diferenças e individualidades de cada um e assim, juntamente com o grupo, planejar e dar continuidade ao trabalho.
          “Adaptação não é algo estático. Adaptação é um processo de mudança, desenvolvimento. É estar atento as novas necessidades.”
             
Objetivos:
ü  Interagir e estabelecer vínculos afetivos com os colegas, professores, funcionários e demais turmas da escola, criando laços de amizade, respeito e companheirismo.
ü  Sentir-se respeitada, dentro das suas limitações, condições e capacidades.
ü  Adquirir confiança nas pessoas que a rodeiam.
ü  Conhecer e explorar diferentes espaços oferecidos pela escola, realizando neles diferentes situações de aprendizagens, descobrindo novas formas de aprender.

Linguagens Prioritárias:
ü  Linguagem da Adaptação, acolhida e da despedida;
ü  Linguagem dos Cuidados, Sentimentos e afetos em geral;
ü  Linguagem da Diferença entre as Pessoas.


Situações de aprendizagens:

ü    Recepção das crianças nos primeiros dias com música, pirulitos e balões coloridos, além de proporcionar uma acolhida calorosa, para que a criança se sinta bem no novo ambiente.
ü    Rodinhas de conversas com assuntos direcionados e variados (férias, finais de semana, o que gostam de fazer,...), buscando conhecer cada um na sua individualidade;
ü    Desenhos sobre o que mais gostaram de fazer nas férias observando como gostam de trabalhar e como o fazem;
ü    Organização da sala (brinquedos, cantinhos) e ornamentação da mesma com a colaboração das crianças para que estas se sintam bem no ambiente;
ü    Realizar um lanche coletivo com alimentos trazidos de casa, promovendo a socialização e a integração entre as crianças das demais turmas;
ü    Jogos/brincadeiras de socialização (gata-cega, pega-pega, cola-cola, esconde-esconde, dança das cadeiras, brincadeiras com balões e jornais, ache seu tênis, história da serpente, dança da vassoura, beijo/abraço ou aperto de mão...), promovendo a integração entre as crianças.
ü    Elaboração das regras e combinados da turma, relacionando os mesmos a desenhos, que serão colados em pratos de papel nas cores verde e vermelho, pintados pelas crianças, identificando assim o que pode e o que não pode acontecer.
ü    Músicas calmas e troca de carinho ao dormir, transmitindo segurança e confiança para as crianças;
ü    Jogos simbólicos com utilização de fantasias, despertando a imaginação das crianças e buscando conhecê-las melhor;
ü    Relaxamento com bolinhas de massagem, feita de colega em colega e também pela professora, promovendo o toque e a afetividade.
ü    Realização de brincadeiras livres na sala e no pátio, visando a integração e socialização das crianças, bem como conhecer as preferências de cada uma.
ü    Jogo do dado Carinhoso, onde cada criança deverá realizar a tarefa do dado (expressa em desenhos) em um de seus colegas, estimulando a afetividade.
ü    Jogo das saudações: ao som da música, todos se movimentam. Ao parar, cada um deverá encontrar um par e realizar com ele a tarefa sugerida pela professora: dar um beijo, um abraço, fazer cócegas, etc., facilitando assim o entrosamento e a afetividade entre as crianças.
ü    Jogo do “Abraço, beijo ou aperto de mão”, estimulando a afetividade.
ü    Descobrir quem é o colega, através do toque, com os olhos vendados, estimulando o toque e a socialização.
ü    Rodas cantadas, como Viuvinha, Terezinha de Jesus, Quem comeu o pão da casa do João” dentre outras, facilitando a integração entre as crianças.
ü    Construção de cabanas utilizando os lençóis (pátio e sala) durante as brincadeiras de faz de conta, despertando assim a imaginação.
ü    Exploração dos diferentes ambientes e jogos que a escola dispõe: pátio, sala, porão, etc. descobrindo assim seus espaços e possibilidades.
ü    Contação da história: “Uma dúzia e meia de coisinhas à toa que me faz feliz, com posterior realização de desenhos e pinturas sobre suas coisas favoritas.
ü    Criação de um cantinho na sala com os objetos e brinquedos favoritos das crianças (trazidos de casa), facilitando assim o processo de adaptação.
ü    Programações e situações de aprendizagens diferenciadas no decorrer do processo: passeios, piqueniques, confecção e degustação de sacolé, festas, teatros, cineminhas, salão de beleza, etc. a ser combinado com as crianças, estimulando a integração entre as mesmas.
ü    Manusear, observar, explorar, amassar folhas de jornais e revistas, onde a professora poderá descobrir, conhecer os interesses de cada criança.
ü     

Recursos:
Giz escolar; Lápis de cor; Giz de cera; Folhas de ofício e desenho; Canetinha;CDs variados; DVDs diversos; Rádio; Bolinhas de massagem; Cadeira; Jogos variados; Livros infantis; Jornais e revistas.


Bibliografia consultada:
BASSEDAS, Eulália et. al. Aprender a ensinar na Educação Infantil. Porto Alegre: ARTMED, 1999.

CRAIDY, Carmem Maria. O educador de todos os dias: convivendo com crianças de 0 a 6 anos. POA: Mediação, 1998;

FERREIRA-ROSSETTI, Maria Clotilde. Os fazeres na educação infantil. 3ª ed.. SP: Cortez, 2001;

LLEIXÁ ARRIBAS, Teresa. Educação Infantil; desenvolvimento, currículo e organização escolar, 5ªed. – Porto Alegre: Art, 2004;

RAPOPORT, Andréa. Adaptação de bebês à creche: a importância da atenção de pais e educadores. Porto Alegre: Mediação, 2005.

SEBASTIANI, Márcia Teixeira. A inserção da criança na creche. In: Fundamentos Teóricos e metodológicos da Educação Infantil. Curitiba: IESDE Brasil, 2005;

Cadernos Educação Infantil, V.5;

Revista Criança do professor de educação infantil – Ministério da Educação

Revista Pátio – Educação Infantil; Educando crianças de 0 a 3 anos.

Internet:


 Acessados em 14/01/09.

Bibliografias sugeridas:
NOVAES, Maria Helena. Adaptação Escolar. Petrópolis: Vozes, 1985.

FUNDAÇÃO, Roberto Marinho. Professor da pré-escola Vol I. Rio de Janeiro: FAE, 1991.

BEE, Helen/Tradução Maria Adriana Veríssimo Veronese. A criança em desenvolvimento. -9.ed. -Porto Alegre:Artmed, 2003.

SANFORD, Fátima Rodrigues. Acolhimento, cuidados que auxiliam a criança a se adaptar na creche. Revista do professor, Porto Alegre, nº81,p.5-6,jan./mar.2005.

AMARAL, M. F., Morelli, V., Pantoni, R. V., Rossetti-Ferreira, M. C. (1996). Alimentação de bebês e crianças pequenas em contextos coletivos: mediadores, interações e programações em educação infantil. Revista Brasileira de Desenvolvimento Humano, 6,p. 19-33,1996.

AVERBUCH, A. R. Adaptação de bebês à creche: O ingresso no primeiro ou segundo semestre de vida. Dissertação de Mestrado não publicada. Curso de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS, 19.